Todos queremos ser vistos como somos. As crianças são grandes professoras nesta temática.
Não temos de ser o que imaginamos que os outros querem para gostarem mais de nós ou permanecerem ao nosso lado. Se e quando chegar a altura, os outros fazem as suas escolhas, independentemente da nossa vontade e do que tenhamos dado ou feito.
As crianças da minha vida são grandes professoras nesta temática e uma oportunidade para atingir esta libertação, que confesso ter demorado alguns anos.
Posso não lhes dar presentes caros ou nem sequer dar presentes, posso dizer que “não” e impor limites se for o melhor para elas, posso estar menos animada e enérgica para brincar. As crianças lêem-nos, têm a capacidade de ver além das formas.
E eu fico tranquila no meu centro, segura de que me reconhecem e irão afastar-se ou aproximar-se naturalmente, sem pressões ou manipulações. Porque sei o que sinto por elas e estou segura de que elas também. Sabem que as Amo profundamente; que quero o melhor para elas; que comigo estão em segurança; que podem rir, brincar, partilhar os seus “dramas” e inquietações; que me podem arrastar até aos provadores da Zara para treinar a paciência mesmo que nada tragam; que aqui têm um porto seguro onde há Carinho, Amizade e Proteção.
Estas recordações das minhas queridas sobrinhas, Beatriz e Luísa, dos filhos dos meus amigos, e da minha própria criança, levam-me à reflexão da semana.
Todos queremos ser vistos como somos. Quanto mais não seja, porque estamos fartos de representar papéis que achamos que nos vão fazer ser mais aceites. Com tanta purpurina e fogo de artifício, fica pouca astúcia e sensibilidade para ver além das aparências. Todos gritamos para ser vistos, quando o que queríamos mesmo era que nos vissem “à séria”, sem termos de estar sempre em bicos de pés ou a representar, numa performance extremamente desgastante.
Obrigada, crianças maravilhosas da minha vida. Vocês confirmam o que os povos indígenas dizem ser o caminho: sentir e ver com os olhos do espírito. Olhar nos olhos do outro e perceber a beleza profunda e as verdadeiras intenções.
Precisamos de reaprender a fazer isto. E deixar de acreditar à primeira em tudo o que vemos, sobretudo quando não coincide com a informação que captamos a outro nível.