A meditação talvez não seja o que pensamos

A reflexão desta semana decorre de algo que me dizem muitas vezes: “Sofia, não consigo ficar quieta e meditar”. Todos nós conseguimos meditar e há várias correntes e formas de meditação ao nosso dispor. A grande questão é que a meditação talvez não seja o que pensamos ou esperamos.

A meditação é um trabalho, um treino individual, que exige dedicação e paciência. Como se trata de aprender a conhecer a natureza do nosso espírito, o que acontece ao meditar vai depender muito de cada um de nós. Só praticando – e ao fim de algum tempo – é possível perceber o impacto que a prática meditativa tem no nosso ser e nas nossas vidas.

Tudo o que fazemos nasce primeiro no nosso espírito, começa por ser um pensamento que nos leva à ação. Quem nunca ficou aterrorizado perante a intensidade de uma emoção, não tendo coragem de olhá-la de frente para perceber a natureza do impulso?! Para escaparmos ao incómodo de um desses pensamentos, cedemos-lhe, partindo impulsivamente para a ação, por vezes com consequências negativas. Quando não queremos ceder, resistimos, que é outra forma de lhe dar força.

Se conseguíssemos esperar um pouco, veríamos o turbilhão a perder força, a desaparecer de um momento para o outro, a não ter qualquer espécie de poder sobre nós. Enfrentar um pensamento de forma consciente, impedindo o impulso, passa por olharmos para ele… se tivermos a capacidade de nos mantermos atentos.

Meditar – ou seja, sermos os espectadores do nosso espírito – permite-nos conhecer as nossas próprias armadilhas e olhar para o problema de forma mais distanciada. Para que funcione e consigamos o objetivo, precisamos de fazê-lo regularmente, como treinamos os músculos no ginásio.

Vamos meditar para ficar tranquilos e em paz? Nem sempre isso acontece. Tal como nos pode dar prazer e produzir boas sensações, a meditação pode trazer-nos o seu oposto. Seja o que for, é a nossa realidade interior a manifestar-se. “Apenas” temos de ficar em sossego a conviver com isso e veremos que rápido perde o impacto.

Em jeito de conclusão, talvez o problema não esteja em “Sofia, não sei meditar”, mas na falta de prática consistente e nas expectativas que temos em relação ao que vamos encontrar na meditação.